Quanto vale um banco?
20 Dez 2012 - Por
Carlos Thadeu C. de Oliveira* e Mariana de Araújo Ferraz**
Se um banco comercial tem número significativo de clientes,
agências capilarizadas pelo território de atuação, elevado capital
mínimo, liquidez, boa lucratividade, bom provisionamento e passa por
todos os chamados testes de estresse aos quais o Banco Central o
submete, parece que todos os requisitos estão preenchidos para responder
positivamente à pergunta-título.
Se um banco comercial tem número significativo de clientes, agências
capilarizadas pelo território de atuação, elevado capital mínimo,
liquidez, boa lucratividade, bom provisionamento e passa por todos os
chamados testes de estresse aos quais o Banco Central o submete, parece
que todos os requisitos estão preenchidos para responder positivamente à
pergunta-título.
Mas, cada vez mais, a responsabilidade socioambiental de um banco passa
a contar também nesta avaliação. E não apenas para os agentes do
mercado, mas para os consumidores que, na hora de escolherem seu banco,
vão se preocupar não só com tarifas, serviços e localização das
agências. Vão querer saber também se o banco viola leis e regulamentos e
desrespeita o consumidor; se ele tem metas de melhoria no atendimento;
se respeita seus funcionários diretos e terceirizados; se ele adota
critérios socioambientais para emprestar e investir.
O Idec, em parceria com organizações de trabalhadores e ambientalistas,
está dando novo impulso a essa vertente. Lançamos, em final de outubro
último, o Guia de Bancos Responsáveis 2012 (www.gbr.org.br), segunda
versão de uma extensa e complexa pesquisa também realizada em 2011, que
pretende avaliar, sob a ótica da responsabilidade socioambiental, os
principais seis bancos comerciais atuantes no Brasil (Itaú, Bradesco,
Caixa Econômica Federal, HSBC, Santander e Banco do Brasil). Nas
pesquisas propriamente ditas, contamos com a colaboração da Amigos da
Terra – Amazônia Brasileira e da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro). Na elaboração da metodologia, tivemos
a parceria do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos
Estatísticos e Socioeconômicos), Observatório Social e CEERT (Centro de
Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). O trabalho contou com
o apoio da Oxfam Novib, uma organização holandesa com longa tradição
nos estudos de responsabilidade social na Holanda e no mundo.
A pesquisa foi feita em várias frentes: questionários enviados aos
bancos, pesquisas de campo sobre a prática bancária (testamos como o
banco se relaciona com um cliente qualquer), questionários enviados aos
representantes dos trabalhadores do ramo, estudos sobre a carteira de
investimentos e financiamentos das instituições, levantamento dos
produtos com apelo socioambiental e envolvimento dos bancos no
financiamento de empreendimentos polêmicos.
Nesses dois anos, buscamos aperfeiçoar a metodologia, tentando tornar a
avaliação a mais objetiva possível. Colhemos sugestões dos próprios
bancos em relação ao método usado um ano antes, no sentido de
aprimorá-lo. Ainda assim, recebemos várias críticas e algumas negativas,
e reconhecemos que ainda há muito a melhorar.
Vale frisar que, apesar de discordarem de vários pontos, todos os seis
bancos – bem como a entidade que os representa, a Febraban (Federação
Brasileira de Bancos) – responderam e participaram da pesquisa,
fornecendo a maior parte das informações solicitadas. Isso é importante:
eles se submeteram às regras do jogo, mesmo discordando de algumas
delas e do resultado final.
Por entender que esse é o início de um trabalho a ser ainda melhorado e
mais difundido é que o Idec pretende continuar nesse tipo de avaliação.
Cabe a nós, agora, incorporar mais fortemente no campo das
investigações instrumentos já adotados pelas instituições financeiras,
como os parâmetros do Global Reporting Initiative, seus próprios
relatórios de sustentabilidade, seus balanços, os prospectos de oferta
inicial de ações etc. Além de toda a gama de assuntos já investigados,
inúmeros pontos merecem, portanto, a atenção dos consumidores: os
fatores de risco declarados aos investidores nos papeis ofertados, o
volume de debêntures emitidas (bem como os credores que as adquirem), a
constituição e a participação em sociedades de propósito específico por
parte das instituições investigadas, notícias veiculadas pela imprensa,
enfim, todo tipo de informação já disponível e publicada que traz luz a
um outro lado ainda pouco conhecido do público mais geral.
Acreditamos que, com isso, prestamos um grande serviço à sociedade e
agregamos a necessária complexidade na avaliação de um setor que é dos
mais importantes em qualquer economia, mas que ainda é pouco
transparente, a não ser para especialistas.
Há similares ao Guia dos Bancos Responsáveis pelo mundo. Só na Holanda, o BankTrack e o Fair Bank Guide avaliam
bancos holandeses e globais. Lá, tudo indica que as relações com o
consumidor e com os trabalhadores já é bastante civilizada e corrigida
rapidamente, quando há problemas. Por aqui, ainda há muito a fazer, a
tirar pela posição de vice-liderança que o setor financeiro ocupa nas
reclamações dos Procons de todo o país.
Por isso mesmo, uma entidade de defesa do consumidor pode ter essa
inciativa aqui no Brasil. Traremos, tanto quanto possível, aos olhos do
consumidor – e temos certeza que também os investidores e credores de
bancos prestarão mais atenção – esse novo olhar sobre os bancos.
Colocaremos na conta final do valor de um banco o quão transparente e
responsável ele é.
* Gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
**Advogada e pesquisadora do mesmo instituto
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