domingo, 5 de maio de 2013


Palavras doem tanto quanto ferimentos, afirma a ciência

Por em 4.12.2012 as 15:58

Praticamente todo mundo já sofreu de coração partido alguma vez na vida, não? Parte de viver incluir lidar com rejeição, traição, solidão e outros sentimentos tão terríveis que parece doerem como doenças físicas.
E doem mesmo. Pesquisas recentes mostram que a dor da rejeição dispara os mesmos neurônios no cérebro que a dor de uma queimadura ou contusão. Além de explicar por que algumas pessoas têm a pele mais espessa que outras, este fato revela uma ligação íntima entre a vida social e a saúde, que cada vez mais estudos dizem ser intrincadas.

Dor física = dor emocional

Estudos com animais nos anos 1990 já haviam mostrado que a morfina não apenas aliviava dores de lesões, mas também podia reduzir a dor de filhotes separados de sua mãe.
Mais tarde, no início de 2000, Naomi Eisenberger, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), começou a estudar sentimentos que causam dor em humanos.
Para descobrir o que ocorre no cérebro quando as pessoas sentem rejeição social, Eisenberger pediu a voluntários que jogassem um jogo de computador simples chamado Cyberball, em que três jogadores passavam a bola entre si. Cada voluntário foi levado a acreditar que estava jogando com duas pessoas que estavam em outro quarto, mas na verdade esses companheiros eram controlados por computador.
Embora começassem amigáveis, os jogadores informatizados logo paravam de passar a bola para o voluntário. Pode parecer um insulto insignificante, mas alguns indivíduos responderam fortemente a essa rejeição, por exemplo, fazendo gestos grosseiros para a tela.
Um scanner de ressonância magnética funcional gravou a atividade cerebral dos voluntários, revelando um aumento no córtex cingulado anterior dorsal (DACC, na sigla em inglês) quando eles começaram a se sentir isolados. Esta região é conhecida por ser uma parte importante da “rede da dor” do cérebro.
Fundamentalmente, quanto mais angustiante é uma lesão, mais o DACC é ativado, fato que também aconteceu durante os jogos de Cyberball: aqueles que relataram se sentir pior depois da rejeição mostraram a maior atividade na região.
Outros estudos confirmaram a ligação, e acrescentaram que a ínsula anterior, uma outra parte da rede de dor que responde a nossa angústia quando cortamos um dedo, por exemplo, também se ativa em casos de dores “emocionais”.

Como sentimentos viram dor real

Apesar de todos esses resultados sugerirem que a nossa angústia após um insulto é a mesma que a nossa resposta emocional a uma lesão, só ano passado estudos mostraram como esses sentimentos podem transbordar em sensações corporais.
Ethan Kross, da Universidade de Michigan em Ann Arbor (EUA), estudou uma forma mais grave de rejeição do que não receber uma bola: um coração partido. Ele recrutou 40 pessoas que haviam passado por um término de romance nos últimos seis meses e pediu-lhes para ver uma foto de seu ex enquanto passavam por um scanner de ressonância magnética.
Kross também os instruiu a pensar em detalhes sobre o rompimento. Depois de um breve intervalo, os voluntários receberam um choque doloroso de calor em seus antebraços, o que permitiu que o cientista comparasse a atividade cerebral associada com as duas situações.
Como esperado, o DACC e a ínsula anterior se ativaram em ambos os casos. Mas, surpreendentemente, os centros sensoriais do cérebro, que refletem o desconforto físico que acompanha uma ferida, também mostraram atividade acentuada. Essa foi a primeira evidência de que o sentimento de desgosto pode literalmente doer.
Por fim, outras pesquisas descobriram que a dor física e a angústia emocional podem, por vezes, alimentar uma à outra.
Quando as pessoas se sentem excluídas, ficam mais sensíveis a se queimarem, por exemplo, bem como submergir a mão em água gelada por um minuto leva as pessoas a se sentirem ignoradas e isoladas posteriormente.
O inverso também é verdadeiro: um calmante pode aliviar a resposta corporal à dor de um insulto. Nathan DeWall, da Universidade de Kentucky em Lexington (EUA), recrutou 62 alunos para um estudo, sendo que metade foi dosada com até dois comprimidos de paracetamol (analgésico) todos os dias durante três semanas, e a outra metade recebeu apenas placebo.
Cada noite, os alunos responderam a um questionário medindo seus sentimentos de rejeição durante o dia. Ao final de três semanas, o grupo do paracetamol tinha desenvolvido pele significativamente mais espessa, sendo que também relataram menos sentimentos de rejeição durante seu dia-a-dia.
Um jogo de Cyberball subsequente confirmou o efeito: aqueles dosados com paracetamol mostraram significativamente menos atividade no DACC e na ínsula anterior em comparação com os que tomaram apenas placebo.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que, devido aos efeitos secundários nocivos de drogas analgésicas, você não deve tomá-las sem prescrição médica.

Mais ou menos rejeitada

As descobertas recentes podem explicar por que algumas pessoas têm mais dificuldade de resistir a percalços em sua vida social do que outras.
Pessoas extrovertidas demonstram ter uma maior tolerância à dor do que as introvertidas, e isso é refletido em uma maior tolerância a rejeição social.
Eisenberger também descobriu que as pessoas que sentem mais dor física (por exemplo, quando um eletrodo quente toca seu braço) também são mais sensíveis aos sentimentos de rejeição (durante Cyberball, por exemplo).
Essas reações podem ser parcialmente genéticas. Eisenberger mostrou que as pessoas com uma pequena mutação no gene OPRM1, que codifica um dos receptores opioides do corpo, são mais propensas a ter sentimentos de depressão após a rejeição do que as sem a mutação. Essa mesma mutação também torna as pessoas mais sensíveis à dor física – elas geralmente precisam de mais morfina depois de uma cirurgia, por exemplo.
É importante notar que estes receptores são particularmente densos no DACC. Como você poderia esperar, em pessoas com a mutação, o DACC tende a reagir mais fortemente aos insultos percebidos.
O primeiro ambiente de uma criança também pode determinar a sua sensibilidade a dor. Por exemplo, pessoas com alguns tipos de dor crônica são mais propensas a ter tido experiências traumáticas na infância, como abuso emocional.
Os adolescentes também parecem particularmente sensíveis à rejeição. A rede de dor do cérebro está ainda em desenvolvimento nessa fase da vida, e, em comparação com o cérebro adulto, tende a mostrar uma resposta mais exagerada a pequenos insultos.
No lado positivo, o apoio social durante este período pode levar a benefícios duradouros. Por exemplo, jovens adultos com boas redes sociais no final da adolescência apresentam reações mais suaves para a rejeição do que os que se sentiam solitários no passado, talvez porque a memória de aceitação subconscientemente acalme seus sentimentos.

Histórica rejeição

Quando você considera a dependência dos nossos antepassados de suas conexões sociais para a sobrevivência, faz sentido que tenhamos evoluído para sentir a rejeição tão intensamente.
Ser expulso de uma tribo no passado teria sido semelhante a uma sentença de morte, expondo nossos predecessores à fome e à predação. Como resultado, nós precisávamos de um sistema de alerta que nos avisasse de um potencial desentendimento, impedindo-nos de ofender alguém ainda mais. A rede de dor, capaz de nos dar uma sacudida quando nos deparamos com danos físicos, teria sido idealmente equipada para também inibir nosso comportamento social.

Rejeição e saúde

Apesar de inúmeros estudos alegarem que a solidão pode causar males físicos nas pessoas (como menor expectativa de vida), pouco sabemos sobre o impacto do isolamento a longo prazo, especialmente porque as respostas fisiológicas a rejeição que conhecemos são de curta duração (como no estudo do Cyberball).
Ainda assim, há medidas que podemos tomar para suavizar a falta de carinho nas nossas vidas sociais. Nós todos gostamos de ser consolados e amados, mas Eisenberger descobriu que dar apoio aos outros também abranda nossa própria resposta à rejeição.
Em experimentos, ela deu choques elétricos em homens, sendo que alguns puderam segurar a mão de suas parceiras em apoio. As mulheres estavam equipadas com scanner de ressonância magnética. Quando elas podiam apoiar seu parceiro, a resposta de seu cérebro de ameaça e rejeição foi significativamente mais moderada.
Sendo assim, embora palavras possam mesmo ser tão dolorosas quanto socos, cuidar de outras pessoas, assim como cuidar de nós mesmos, pode suavizar bastante essa dor.[NewScientist]

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