quinta-feira, 9 de maio de 2013

O que é intuição?

Por em 8.05.2013 as 13:00
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A palavra intuição é derivada do latim “intueor”, que significa “ver”. A intuição muitas vezes é invocada para explicar como a mente pode “ver” respostas para problemas ou decisões na falta de uma fundamentação explícita; ou seja, uma “reação instintiva”.
Você já deve ter ouvido alguém pregar o “poder da intuição” e nossa capacidade de “pensar sem pensar”, sugerindo que devemos confiar mais na intuição do que no processo lento e deliberativo do pensamento racional.
Há ainda quem argumente que na maioria das vezes agimos de forma intuitiva – ou seja, sem saber por que fazemos as coisas que fazemos.
Mas o que as evidências cientificas têm a dizer sobre isso? E o que é intuição, afinal?

(Re)conhecimento

Albert Einstein uma vez disse que “a intuição nada mais é que o resultado da experiência intelectual anterior”.
Na mesma linha, o psicólogo norte-americano e ganhador do Nobel Herbert A. Simon afirmou que a intuição era “nada mais e nada menos do que o reconhecimento”.
Essas definições são muito úteis porque nos lembram que a intuição não precisa se referir a algum processo mágico pelo qual respostas surgem em nossas mentes a partir do ar ou do inconsciente.
Pelo contrário: as decisões intuitivas são muitas vezes um produto do pensamento explícito intenso ou extenso anterior. Tais decisões podem aparecer de forma rápida e fácil porque são feitas com base no reconhecimento.
Como um exemplo simples, considere a decisão de levar um guarda-chuva quando você sai de casa pela manhã. Um rápido olhar para o céu pode oferecer uma sugestão (como nuvens portentosas), e essa sugestão nos dá acesso a informações armazenadas na memória (chuva é provável), e por fim esta informação fornece uma resposta (levar um guarda-chuva).
Quando esses sinais ou sugestões não são tão facilmente perceptíveis, ou a informação na memória está ausente ou seu acesso é mais difícil, nossas decisões se tornam mais deliberativas (demoradas).
Esses dois extremos estão associados com experiências diferentes. O pensamento deliberativo nos dá consciência das etapas intermediárias em uma cadeia de raciocínio, e do esforço de combinação da informação. Já o pensamento intuitivo não dá nos dá consciência desses passos cognitivos intermediários (porque não há nenhum) e não parece precisar de esforço (porque são as pistas que desencadeiam a resposta).
Ou seja, a intuição é simplesmente caracterizada por sentimentos de familiaridade e fluência.

Boa ou ruim?

Se a intuição é inerentemente “boa” ou “ruim” depende da situação.
A visão de Herbert Simon de que “a intuição é reconhecimento” foi baseada em um trabalho que descrevia o desempenho de especialistas de xadrez, do psicólogo holandês Adriaan De Groot. O estudo mostrou que uma assinatura de especialização no xadrez é a capacidade de identificar movimentos promissores muito rapidamente.
Essa capacidade é alcançada através de um “padrão de correspondência” contra memórias de até 100.000 posições de jogo diferentes para determinar a melhor jogada. Novatos, em contrapartida, não têm acesso a essas memórias e, portanto, tem que trabalhar com as possíveis contingências de cada movimento.
O psicólogo Gary A. Klein e seus colegas fizeram um estudo semelhante e concluíram que os bombeiros podem fazer rápidas decisões “intuitivas” sobre como o fogo pode se espalhar através de um edifício, porque eles podem acessar um repertório de experiências anteriores semelhantes e executar simulações mentais de cenários potenciais.
Assim, nesses tipos de situações, onde temos muita experiência anterior a partir da qual desenhar conclusões, a decisão rápida e intuitiva pode ser muito boa.
Mas a intuição também pode ser enganosa. O psicólogo e ganhador do Nobel Daniel Kahneman, por exemplo, mostrou as falhas inerentes a um excesso de confiança na intuição. Para ilustrar esse tipo de erro, ele considerou um problema simples: se um taco e uma bola custam R$ 1,10 no total, e o taco custa R$ 1,00 a mais do que a bola, quanto custa a bola?
Se você é como eu, sua resposta imediata (e provavelmente intuitiva) foi “10 centavos”. Isso porque prontamente separamos o R$ 1,00 do R$ 0,10 e 10 centavos parece ser um valor plausível.
Mas um pouco mais de pensamento revela que esta resposta é errada. Se a bola custasse 10 centavos, o taco (um real mais caro) custaria R$ 1,10 e o total da compra seria R$ 1,20. Assim, a bola deve custar 5 centavos.
Então, por que a intuição pode nos desviar do caminho certo? Porque ela nem sempre se baseia no reconhecimento, mas também em associações simples que vêm à mente imediatamente (ou seja, a associação entre R$ 1,00 e R$ 0,10).
Estas associações simples são invocadas, porque, muitas vezes, a mente gosta de usar atalhos que tornam o processo de pensar mais fácil. Em muitos casos, isso funciona bem, mas se você utilizar esses atalhos em demasia, sem checá-los com pensamento mais deliberativo, erros irão certamente ocorrer.
Conclusão: precisamos ter cautela e tentar usar a intuição de forma adaptativa. Quando estamos em situações nas quais temos muita experiência (como fazer julgamentos sobre o clima), a intuição – ou o reconhecimento rápido de “pistas” relevantes – pode ser um bom guia.
Mas, se nos encontramos em território novo ou em situações nas quais pistas válidas são difíceis de se obter (como previsões no mercado de ações), contar com o nosso “instinto” pode não ser sábio. Nossa tendência inerente de tomar decisões usando o mínimo de pensamento pode levar a deslizes em nosso raciocínio.[MedicalXpress]

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