terça-feira, 7 de maio de 2013

Considerações sobre Engenharia

Artigo:  Engenharia – considerações sobre formação e exercício profissional
Manchete da Folha de São Paulo enfatiza o crescimento de matrículas de tal ordem que o número de calouros de Engenharia supera os de Direito. É motivo de reflexão aos que tem responsabilidades nessa trajetória, já que formação de novos engenheiros e o respectivo exercício profissional tem a graduação como ponto de contato, numa relação que lembra duas engrenagens engrenadas. Dentro da mecânica aplicada, facilmente se identifica que tais dispositivos giram em sentido contrário. Felizmente, não é assim que funcionam as duas áreas, mas dificuldades intrínsecas da formação certamente tem implicações complexas na área profissional.
Há, na Educação quem fique contrariado ao falar-se em aplicação prática da ciência, como se fosse um tema menor. Mas é daí que deriva a tecnologia, que, bem concebida e concebida para o Bem, tantos benefícios traz ao nosso desenvolvimento. Vivemos esse momento especial onde, com tantos ingressantes, vê-se valorizada a importância da engenharia para o crescimento sustentado e bem estar da sociedade. Como formar um bom engenheiro para o futuro que se apresenta?
Em nossa Universidade Santa Cecília, há mais de 40 anos apostando no progresso, fez-se de engenharia o primeiro curso superior da instituição, pioneiro na Baixada Santista. Não era nem é uma tarefa fácil, hoje com mais de 60 laboratórios de pesquisa e desenvolvimento é campo propício e fértil para a simbiose entre ciência, inovação e conhecimento aplicado. Essa marca de ver além do que o momento imediato representa hoje um especial vetor de desenvolvimento regional. Por seu lado, a comunidade docente dos cursos de engenharia, competente e dedicada, realiza um formidável trabalho para formar um bom engenheiro.
Temas recorrentes nos congressos da ABENGE – Associação Brasileira de Ensino de Engenharia –  ressaltam a busca determinada do aperfeiçoamento da prática docente. Enfrenta a Educação o desafio de conciliar um bom ensino com nossas características de país continental, com culturas e demandas regionais. Temos aqui imensa vantagem de falar nossa bela língua portuguesa, imagine-se as dificuldades da nação Europa, com a diversidade de países e idiomas expressos em três alfabetos(!), para formar um engenheiro “comunitário”.
As premissas do Tratado de Bolonha repercutem na graduação e na pós, mestrado e doutorado. Muitos questionam essas ações, mas isso é um assunto para longa discussão. Quanto ao exercício profissional, no âmbito dos conselhos, tem-se o mister de receber os formados, apreender o conhecimento auferido para conceder um título profissional – sim, pode ser diferente do acadêmico! – e atribuições que regulem as atividades a serem exercidas.
É uma responsabilidade imensa, habilitar alguém de cujas ações decorrem aspectos relacionados com a integridade física e patrimônio, sonhos e esperanças das pessoas. Imaginem por exemplo a complexidade de um órgão como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo, com mais de 400 mil profissionais registrados! Nele, a prática diária tem desafios surpreendentes, face à multiplicação de cursos dentro dos graus de liberdade que lhes conferem as diretrizes curriculares nacionais pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Como identificar em cada curso, cada turma, com currículos ajustados no tempo, e para cada aluno (com matérias eletivas), de forma justa e precisa suas habilidades e competências?
Desafio posto, com o raciocínio lógico que caracteriza a engenharia idealizou-se a sistematização dos assuntos sob a forma de uma Matriz de Conhecimento, relativos às respectivas aplicações profissionais. Como aplicação prática, quando consolidado o sistema, teremos grande agilidade nos registros. Além disso, pelo conhecimento prévio, os ingressantes num curso poderão consultar as atribuições correspondentes, a partir das informações do programa do curso enviadas pelas IES. Será mais um componente para a escolha, pelo candidato, do curso que atender suas expectativas, em face da conhecida diversidade de formações e elementos dos projetos pedagógicos.
Traduzir a linguagem e práticas da educação para a sociedade é tarefa para especialistas em ambos os sistemas, não se trata de simplificar indevidamente coisas complexas, mas descomplicar os procedimentos aperfeiçoando o atendimento. Sabiamente conselhos profissionais incorporam representantes docentes em sua composição que, por sua experiência acadêmica e prática, atuam adicionalmente à guisa de “tradutores” da Educação, contribuição respeitada e de grande valia para o perfeito sincronismo dos dois sistemas, educação e prática profissional. Como tantos outros colegas, exercemos esse honroso mister, certos de que tal missão traz importante contribuição à ciência e a nossa sociedade.
Aureo Emanuel Pasqualeto Figueiredo, Diretor da Unisanta, é conselheiro do CREASP onde integra a Comissão de Educação e Atribuições Profissionais e coordena a Câmara de Engenharia de Segurança do Trabalho.

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