domingo, 7 de abril de 2013

(continuação)


Com essa medida Nasser iniciou um processo que tentava levar a cabo um nacionalismo árabe, visando fortalecer a região frente aos interesses estrangeiros, porém essa medida acabou sendo limitada e não logrou êxito, essencialmente em função da dinâmica de guerras que assolaram a região durante toda a segunda metade do século XX.

A maioria das guerras tinham em sua raiz as disputas com o Estado de Israel que expandia suas fronteiras às custas de territórios de países árabes, em 1948 – 49 travou-se um conflito no qual os judeus anexaram vastos territórios. Depois em 1967 (A Guerra dos Seis Dias) no qual conseguiu anexar a Península do Sinai e as Colinas de Golã. Outras guerras sacudiram a região, seguindo a proporção de ao menos uma por década, em 1973 ocorreu a do “Yom Kippur” e na década de 1980 a Intifada Palestina. Além disso não faltaram também conflitos entre os próprios povos árabes, como a Guerra Irã – Iraque (1980 e 1988), seguindo-se a invasão do Kuwait pelo mesmo Iraque em 1990 que acabou com a intervenção norte americana dando origem à primeira Guerra do Golfo (1991).

A mistura de dominação direta, ou submissão disfarçada aos interesses das potências estrangeiras, a construção de fronteiras que não respeitaram a tradição dos povos que habitavam a região há séculos e o estabelecimento de governos autoritários, em sua maioria com forte componente religioso muito importante, para garantir uma estabilidade política que não colocasse em risco o fluxo de petróleo para as economias centrais está na raiz das explosões que está se ampliando a cada dia.

A Primavera Árabe, iniciada na Tunísia, é um movimento de populações oprimidas por governos que ao longo de décadas atenderam aos interesses imperialistas e mantiveram um silencio forçado a custa de muita opressão política e da formação de verdadeiros estados policialescos. Estados que nunca abriram espaço para manifestações de descontentamentos sociais e menos ainda canais reais de participação política para seus cidadãos. Ao atear fogo ao próprio corpo, simbolicamente, o jovem tunisiano Mohamed Bouazizi não protestou apenas contra a apreensão de suas mercadorias ou da falta de perspectivas de vida, que atinge a maioria dos jovens do mundo árabe, mas demonstrou ao mundo que aquela medida extrema era um grito de desespero frente a uma realidade muito mais ampla, de um contexto em que a auto – imolação foi a única forma de se fazer ouvir, mesmo que a custa da própria vida.

Como uma panela de pressão, já sobrecarregada, essa atitude individual fez despertar pessoas em toda a região que identificaram-se com a rebelião solitária de Mohamed Bouazizi, por perceberem que muitos de seus problemas tinham as mesmas raízes.

Nesse ponto, e somente nele, é que as novas mídias de comunicação social foram indispensáveis, pois através delas as informações circularam a despeito do rígido controle exercido pelos Estados e permitiram a formação de um rede de indivíduos saturados da opressão suportada por tanto tempo em seus respectivos Estados.

Em outros momentos históricos movimentos de rebelião concatenados varreram também governos opressores, porém cada um deles deve ser entendido dentro de seu contexto, foi o caso das Independências na América Espanhola (primeira metade do século XIX), a Primavera dos Povos (1848) e o fim do socialismo no leste europeu. 

Assim, as rebeliões no mundo árabe receberam o nome de “Primavera Árabe” em função de seu efeito concatenado, ou simplesmente pelo “efeito dominó”, pois elas se espalharam como um rastro de pólvora e obviamente tomaram rumos próprios em cada um dos países atingidos. Mas um grito era (e ainda é) quase uníssono em todos esses movimentos: “Liberdade”, o que significa na prática o fim da opressão promovida por governos atrelados muito mais a interesses de pequenas elites a serviço do capital estrangeiro do que às necessidades e anseios de suas populações.

Enviado por Leandro Barbosa Gouveia

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