A primavera Árabe
“Nós nos rebelamos contra os ingleses; e contra os franceses...
Nós nos rebelamos contra os que colonizaram nossas terras e tentaram nos escravizar...
Nós repelimos a revolução vermelha muitas vezes, e continuamos nossas revoluções brancas por muitos anos...
E para isso suportamos muito sofrimento, aguentamos muitas perdas, sacrificamos tantas vidas...
Mas: Quando finalmente conquistamos nossa liberdade, começamos a santificar as fronteiras que eles instituíram depois de dividir nossas terras...
E nos esquecemos de que essas fronteiras eram as do "confinamento solitário" e as da "prisão domiciliar" que eles nos impuseram!”
Sati‘ al-Husri
Estendo-se do Atlântico ao Oriente Médio o “Mundo
Árabe” abriga uma diversidade cultural e histórica extremamente
complexa, ao contrário do que essa generalização simplificadora sugere.
Porém, essa região tem sofrido com ataques e dominações estrangeiras
há muitos séculos, desde o Império Turco Otomano, passando pelo
Imperialismo franco-britânico e finalmente sendo submetido pelos
interesses econômicos norte-americanos.
O sentido de homogeneidade dessa região está muito atrelado à religião (Islã), mas também essencialmente a essa dinâmica de dominação enfrentada desde o medievo europeu.
No poema acima fica explicita a característica essencial dessa região do planeta, na qual as imposições de potências econômicas e militares determinaram sua configuração geopolítica sem levar em consideração as tradições milenares dos povos que nela habitam, sendo essa uma das razões de muitos dos conflitos que a assolam até hoje.
O sentido de homogeneidade dessa região está muito atrelado à religião (Islã), mas também essencialmente a essa dinâmica de dominação enfrentada desde o medievo europeu.
No poema acima fica explicita a característica essencial dessa região do planeta, na qual as imposições de potências econômicas e militares determinaram sua configuração geopolítica sem levar em consideração as tradições milenares dos povos que nela habitam, sendo essa uma das razões de muitos dos conflitos que a assolam até hoje.
Não foram os árabes que construíram as fronteiras
atuais de seu “mundo”, não foram os Tunisianos que criaram a Tunísia,
nem os egípcios que criaram o Egito e assim poderíamos ir citando
tantos outros, como Iraque, Síria, Jordânia, Arábia Saudita. A maioria
das fronteiras nacionais dessa região foram desenhadas nas pranchetas
de técnicos e políticos ocidentais, levando em consideração os
interesses econômicos e geopolíticos de seus países e não dos povos
então dominados.
Ainda no século XIX essa parte do mundo foi dominada pelas potências européias. Em 1830 a França tomou a Argélia e no ano de 1875 dividiu com a Inglaterra o controle sobre o Canal de Suez. Seja através da força das armas, ou por meio da dominação econômica, o imperialismo ocidental foi presença constante na região até o século XX.
Em maio de 1916, em plena I Guerra Mundial, os europeus firmaram um
acordo (Acordo de Sykes-Picot) dividindo entre si os espólios do
Império Turco Otomano– vale lembrar que nesse momento o petróleo já
havia se tornado essencial para as economias capitalistas. Segundo esse
Acordo cabia à França as áreas da Síria, Monte Líbano e à Inglaterra a
dominação sobre a Mesopotâmia (atual Iraque) e como protetorado uma
vasta região que se estendia do Egito ao Golfo Pérsico. Ainda no século XIX essa parte do mundo foi dominada pelas potências européias. Em 1830 a França tomou a Argélia e no ano de 1875 dividiu com a Inglaterra o controle sobre o Canal de Suez. Seja através da força das armas, ou por meio da dominação econômica, o imperialismo ocidental foi presença constante na região até o século XX.
Mapa do Império Turco-Otomano em seu auge
Ampliando o cenário que abriria espaço para diversos conflitos na região, em 17 de novembro de 1917 os ingleses comprometeram-se a criar um “lar nacional judeu na palestina,” promessa que tornou-se realidade em 1948.
Ao longo do século XX, essencialmente no auge do processo de descolonização que tinha como pano de fundo a Guerra Fria, a maioria dos protetorados e regiões dominadas conquistaram suas independências formais, porém isso não significou o fim da submissão aos interesses econômicos das potências ocidentais. Estabeleceram-se fronteiras artificiais e governos, repúblicas ou monarquias, ligados mais aos interesses estrangeiros e pouca relação tendo com os anseios de suas populações. Costumava-se dizer que um soberano dos novos países árabes davam satisfações primeiro aos acionistas das gigantes petrolíferas e somente depois aos seus cidadãos.
Em 1956 o então presidente do Egito Gamal Adel Nasser nacionalizou o controle sobre o Canal de Suez com um discurso inflamado para um multidão de milhares de pessoas no qual ele disse:
“Tudo o que nos foi roubado por aquela empresa imperialista, por aquele Estado dentro do Estado, enquanto morríamos de fome, nós vamos reaver... O governo decidiu sobre a seguinte lei: um decreto presidencial que nacionaliza a Companhia Internacional do Canal de Suez. Em nome da nação, o presidente da república declara que a Companhia Internacional do Canal de Suez é uma companhia limitada egípcia”
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